quinta-feira, 28 de março de 2013

A Igreja e a Política em um Encontro Histórico - I Parte

Constantino conduzindo o Concílio de Niceia
Esta publicação é um ensaio (que postarei em 3 partes) que tem por objetivo aguçar a mente dos caros leitores e leva-lós a uma reflexão da situação atual em que se encontra as Igrejas Cristãs, sejam elas católicas, protestantes ou ortodoxas.

Visa expor a historicidade dos fatos, que levaram a Igreja a um profundo mergulho nas entranhas do poder e da política, bem como as suas práticas de relacionamento com seu público alvo, os fieis cristãos.

Viajem comigo neste estudo, assim reflita e tire as suas próprias conclusões.

Segue a primeira parte:

A história eclesiástica sempre aguça a nossa curiosidade, ficamos impactados pelos acontecimentos que tem marcado o crescimento da nossa instituição, seus mártires, pregadores, templos, reuniões e por aí vai

Somos educados há muito tempo com um ditado popular onde diz – “Temos que descobrir o passado para entender o presente e se preparar para o futuro”. Olhando para essa necessidade abordamos aqui a influência do estado e o seu poder na Igreja do Senhor.

Pesquisando a história descobrimos que foi no Concílio de Niceia onde esse poder ficou evidente. Analisamos a fundo esse sínodo e descobrimos alguns de seus desdobramentos através dos séculos subsequentes. Analisamos também os editos anteriores que tornaram esta reunião possível, como o Edito de Tolerância e o Edito de Milão. Da questão ariana ao papado, da liberdade do Edito de Milão às 95 teses de Lutero, tudo foi analisado e pesquisado para obter um único substrato, o poder estatal.

Questões relevantes como a junção entre os poderes temporal e atemporal [1], foi levada ao leitor de uma forma imparcial, no que for possível de nossa parte, buscando sempre deixar o fato falar por si só, esta foi a nossa metodologia. Sem esquecer-se desses reflexos no mundo capitalista de hoje, pois o próprio lhe propicia, e muito. E esse é o nosso objetivo principal entender o presente século.

Estamos preparados para o futuro? Vejamos na conclusão destas publicações.

Pressupostos históricos.

A Perseguição

Após três séculos de existência, o cristianismo apesar de muita perseguição crescia de forma grandiosa. Todas as grandes cidades do império romano tinham um número satisfatório de convertidos ao cristianismo. E mesmo com essa resistência do estado, a Igreja não parava de crescer, mas foi na última tetrarquia romana do quarto século, que era formada pelos quatros tiranos, o Imperador Diocleciano (284 – 305), Maximiliano, Galério e Constantino Cloro, pai de Constantino, o Grande. Foi neste período então que a Igreja encontrou o seu maior obstáculo, uma perseguição jamais vista até aquela época.

Diocleciano (245 – 316), Gaius Aurelius Valerius Diocletianus” influenciado por Galério, ordenou em Março de 303 que fossem destruídas todas as Igrejas, os livros cristãos deveriam ser todos queimados na fogueira, as reuniões estavam expressamente proibidas, assim como também toda a organização eclesiástica estava dispensada de seu exercício ministerial, os cristãos seriam obrigados a sacrificar aos deuses, caso se negassem seriam presos, sendo negada a liberdade até mesmo a seus familiares[2]. Todos os que desrespeitassem essas normas seriam preso e passiveis até de morte.

Contudo, o Imperador Galério, prevendo o cristianismo como o último obstáculo à consolidação de um governo absolutista[3], tinha um grande ódio pelos cristãos, era genro do Imperador Diocleciano, e exercia uma influência fatal sobre ele. Persuadiu-o de que o cristianismo se opunha aos melhores interesses do povo, e que o meio de fazer reviver as antigas glórias do império era arrancar pela raiz aquela odiosa religião e destruí-la completamente”[4]. Para poder atingir esse objetivo, Galério buscou apoio e auxílio entre os mestres da filosofia e dos sacerdotes pagãos.

Após oito anos de extrema perseguição aos cristãos e observando que não estava produzindo o efeito desejado pelos Imperadores, pois existia um sentimento de alegria intensa no meio do povo cristão, que de forma alguma negava sua fé, demonstrando essa alegria até mesmo em situação de extrema dor, causado pelos castigos imposto pelo império. Como relata em sua obra o Dr. Knight:
No Egito, os cristãos sofreram o martírio aos grupos, tendo havido dia de sessenta a oitenta mortes. Romano, o diácono de Antioquia, quando foi ameaçado com a tortura, exclamou: ‘Oh! Imperador, recebo gostosamente a tua sentença; não me recuso a ser torturado a favor dos meus irmãos, ainda que seja pelos meios mais cruéis que possas inventar’. Quando o executor hesitava em continuar o seu terrível trabalho, em conseqüência de a vítima pertencer à nobreza, Romano disse: Não é o sangue dos meus antepassados que faz com que eu seja nobre, mas sim a minha profissão cristã. Depois de ter recebido muitas feridas no rosto, ex-clamou: ‘Agradeço-te capitão, por me teres aberto tantas bocas pelas quais eu possa pregar o meu Senhor e Salvador Jesus Cristo'"[5]. (grifo nosso).
Foi então que em 311, o Imperador Galério, em seu leito de morte, promulga o Edito de Tolerância, legalizando o cristianismo e rogando a prece dos cristãos em paga da “Nossa Altíssima Clemência”. Com efeito, enquanto Roma gerava o caos, o cristianismo multiplicava-se calmamente, construindo, dessa forma, uma ordem que sobreviveu após a derrota do Estado Imperial Romano.[6]

Em meio essa indecisão, de não saber o que fazer com a situação dos cristãos, se deveria ou não combater o avanço do cristianismo, pois surgia um edito após o outro liberando e proibindo o culto cristão. Essa causa estava indefinida sem nenhuma posição sólida a esse respeito. É nesse clima que surge no cenário mundial a figura de Constantino “O Grande”, o qual, em termos, determinará os novos rumos da nascente Igreja Católica, sobretudo no que se refere à institucionalização oficial da doutrina cristã.

Constantino, o Grande, 272 - 337.

Constantino I, Constantino Magno ou Constantino, o Grande (Flavius Valerius Constantinus), foi proclamado Augusto pelas suas tropas em 25 de Julho de 306 e governou uma porção crescente do Império Romano até à sua morte. Nascido em Naissus, na Mésia (cidade de Niš na atual Sérvia), filho de Constâncio Cloro e da filha de um casal de donos de uma albergaria na Bitínia, Helena de Constantinopla.[7] Não se tem muita certeza sobre a origem da mãe do Imperador Constantino, por exemplo, O Dr. Knight em sua obra diz que sua mãe era uma princesa britânica.[8]

O fato de Constantino ter vivido no Oriente grego e de que sua mãe Helena sabia fluentemente o idioma grego, ajudou Constantino ter uma boa educação, o que facilitou-lhe o acesso à cultura bilíngue própria da elite romana, e foi de grande valia no serviço do tribunal de Diocleciano depois do seu pai ter sido nomeado um dos dois Césares. Constantino serviu nas campanhas do César Galério e de Diocleciano contra os Sassânidas e os Sármatas. Quando houve abdicação conjunta de Diocleciano e Maximiano em 305.

Entrou para a história como o primeiro Imperador romano a professar o cristianismo. Segundo a historia sua aproximação com o cristianismo foi durante a sua vitória sobre um dos maiores defensores do paganismo, Maxêncio, na chamada Batalha da Ponte Mílvio, em 28 de outubro de 312, perto de Roma, que ele mais tarde atribuiu ao Deus cristão como relata o historiador Curtis[9]
“Segundo o relato da história, o general Constantino olhou para o céu e viu um sinal, uma cruz brilhante, na qual podia ler: ‘Com isto vencerás (...) Mais tarde, Cristo teria aparecido a Constantino em um sonho, segurando o mesmo sinal (uma cruz inclinada), lembrando as letras gregas chi (χ) e rho (ρ), as duas primeiras letras da palavra Christos” 
Isse foi o evento que levou Constantino a colocar esse sinal nos escudos de seus soldados, e fez prontamente, da forma exata como fora ordenado. Assim venceu a batalha e derrotando o seu inimigo Maxêncio, pois morreu afogado em sua própria armadilha, era uma falsa ponte de barcas feita no rio Tibre e estava preparada como armadilha contra Constantino, mas rompeu-se antes do tempo, matando Maxêncio afogado no rio.[10]

Tal fato marca a derrota do paganismo, sobretudo pela promulgação do Edito de Milão, documento que confirma a tolerância religiosa concedida por Galério, Constantino e Licínio, quando estavam se reunido na conferência da cidade de Milão. Ficou assim decidido
“...a respeito do bem e da segurança do império, decidimos que, entre tantas coisas benéficas à comunidade, o culto divino deve ser a nossa primeira e principal preocupação. Pareceu-nos justo que todos, cristãos inclusive, gozem da liberdade de seguir o culto e a religião de sua preferência”[11]. 
Este desejo acabou estendendo-se, igualmente, a todos os outros credos, além de ordenar a restituição sem nenhum ônus dos bens confiscados e dos lugares de culto dos cristãos por ocasião das últimas perseguições.

No próxima parte deste ensaio iremos retratar o Concílio niceno, a Igreja do IV século e seus desdobramentos.

Continuação.... II Parte..

Soli Deo Gloria.


Notas (I Parte)

[1] Utilizamos aqui este termo no sentido mais antigo da palavra, como aquilo que denota o “poder metafísico”.
[2] BETTENSON, Henry. Documentos da Igreja Cristã..São Paulo: Aste, 2007. p.47.
[3] MEDEIROS, Silvio. AULA DE HISTÓRIA III: O Edito de Milão e a consolidação histórica do Cristianismo. Disponível em: http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/2.5/br/.
[4] KNIGHT, A.E., ANGLIN, W. História do cristianismo. 2ª ed,. Rio de Janeiro: CPAD, 1983. p.20.
[5] KNIGHT, A.E., ANGLIN, W. op. cit. p.31.
[6] MEDEIROS, Silvio. op. cit.
[7] Informações retiradas do artigo “Constantino I” da Enciclopédia eletrônica livre Wikipédia disponível em: www.Wikipédia.com.br.
[8] KNIGHT, A.E., ANGLIN, W. op. cit. p.33.
[9] CURTIS, A. Kenneth.Os 100 acontecimentos mais importantes da história do cristianismo: do incêndio de Roma ao crescimento da igreja na China .trad. Emirson Justino. São Paulo: Editora Vida, 2003. p.28.
[10] EUSÉBIO, História Eclesiástica,São Paulo: Editora Novo Século, 2002. p.198.
[11] BETTENSON, Henry op. cit. p.49.

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BIBLIOGRAFIA (Geral).

BETTENSON, Henry. Documentos da Igreja Cristã..São Paulo: Aste, 2007. 452 p.
BÍBLIA Shedd: Antigo e Novo Testamento. Trad. João Ferreira de Almeida. 2.ed. rev. e atualiz. no Brasil. São Paulo: Vida Nova; Brasília: Sociedade Bíblica do Brasil, 1997. 1929 p.
CAIRNS, Earle E. O cristianismo através dos séculos:uma história da Igreja cristã.trad. Israel Belo de Azevedo.2. ed. São Paulo: Vida nova, 1995. 508 p.
CURTIS, A. Kenneth. Os 100 acontecimentos mais importantes da história do cristianismo: do incêndio de Roma ao crescimento da igreja na China .trad. Emirson Justino. São Paulo: Editora Vida, 2003. 205 p..
EUSÉBIOHistória Eclesiástica,São Paulo: Editora Novo Século, 2002. 223 p.
KNIGHT, A.E., ANGLIN, W. História do cristianismo. 2ª ed,. Rio de Janeiro: CPAD, 1983. 223 p.
PERES, Alcides Conejeiro. O catolicismo romano através dos tempos: uma análise de sua história e doutrinas. Rio de Janeiro: JUERP, 1995. 146 p.

Bibliografia eletrônicas.

BRANDT, Steve. O Concílio de Nicéia. Apostolado Veritatis Splendor, Disponível em: http://www. veritatis. com.br/article/4328. Acesso em: 28 de Março de 2013.
MEDEIROS, Silvio. AULA DE HISTÓRIA III: O Edito de Milão e a consolidação histórica do Cristianismo. Disponível em: http://www.recantodasletras.com.br/redacoes/571238. Acesso em: 28 de Março de 2013
VARO, Francisco. O que aconteceu no Concílio de Nicéia? Disponível em: http://www.opusdei.org.br/art.php?p=16353 Acesso em: 28 de Março de 2013.
WIKIPÉDIA, Enciclopédia eletrônica livre. Artigo “Constantino I” disponível em: www.Wikipédia.com.br. Acesso em: 28 de Março de 2013
WIKIPÉDIA, Enciclopédia eletrônica livre. Artigo “Primeiro Concílio de Nicéia” disponível em: www.Wikipédia.com.br. Acesso em: 28 de Março de 2013
OCULTURA, Enciclopédia eletrônica livre. Artigo “Primeiro Concílio de Nicéia” da disponível em: http://www.ocultura.org.br. Acesso em: 28 de Março de 2013

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