Me santifico para ser salvo ou sou salvo por isso me santifico?
Há muito tempo tem se discutido sobre um assunto, que por sinal parece interminável, que tem como finalidade o entendimento do mecanismo da relação entre o ser e seu Criador e a salvação que é oferecido por Deus aos homens. O assunto que parece, pelo menos em primeira vista ser simples, é um pouco mais complexo do que imaginamos a priori e ainda fica um pouco mais confuso conforme vamos se aprofundando no tema.
Muito tem se falado e publicado em relação a esta celeuma sem fim entre o calvinismo e o arminianismo como entendimento da relação entre Deus e o homem. Mas o que realmente são estes dois pontos de vista? O que realmente eles contribuem para a necessidade de compreensão destes fatores?
Bom, o dogmatismo calvinista iniciado por João Calvino no século XVI (na realidade ele somente complementou o pensamento agostiniano) tem como principio básico, a soberania de Deus, e que por respeito a esta soberania, todo ser fica condicionado a sua vontade. No que se refere a salvação dos homens, o calvinismo defende:
“É Deus que decide quem vai salvar e quem ira mandar para a condenação eterna.”
Já o arminianismo tem como principio básico a ordenança divina de que todos os seres possui o poder de decisão sobre todos os seus atos, o assim chamado “Livre arbítrio”, e sobre a salvação diz:
“Deus realizou sua obra salvífica em prol de todos e o próprio ser decide se aceita esta salvação ou não”.
Como observamos existe duas formas incompatíveis entre si e que apontam dois extremos de um tema fundamental a todos os cristãos, ou seja, Deus escolhe quem ele irá salvar ou o homem escolhe se quer se salvar ou não.
Nunca quis ou desejei participar desta celeuma, pois não tenho, por mais que pareça estranho, nenhuma das duas opções como totalmente correta, mas também não são todas as duas totalmente incorretas, dai você pode me perguntar:
“Como assim? Como pode haver uma terceira opção entre dois termos tão excludente?”
Primeiramente os calvinistas, leia-se a teologia reformada, erram ao tentar dogmatizar a Deus com filosofias humanas, pois Deus esta acima de todo pensamento humano como bem disse o profeta Isaias “Porque, assim como o céu é mais alto do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos mais altos do que os vossos pensamentos” não podemos de forma alguma conjuminar Deus em sua totalidade em nada que seja produzido pela mente humana, ou seja, não podemos jamais decretar algo sobre um Ser que esta acima de nossas pretensões filosóficas.
Segundo erro dos calvinistas é reduzir o sacrifício de Deus a alguns poucos favorecidos, a obra redentora foi e é para todos nós e por isso esta disponível a todos que assim almejarem. “Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” e ainda “Porque a graça de Deus se manifestou, trazendo salvação a todos os homens”, sobre este quesito os calvinistas dizem que realmente o sacrifício foi para todos, mas que Deus tem os seus escolhidos para alcançar esta graça como já dizem Deus escolheu Jacó e não Esaú.
O que eles não compreendem é que Deus não escolheu salvar Jacó e condenar Esaú, não é assim que compreendemos a história destes dois personagens bíblicos. Deus realmente escolheu Jacó, mas foi para uma tarefa específica, ou seja, Deus não escolheu Jacó para salvá-lo e sim para a tarefa de continuar o chamado de seus pais que era de estabelecer o reino de Israel formando as doze tribos. Como bem diz o texto bíblico “E os filhos lutavam no ventre dela; então ela disse: Por que estou eu assim? E foi consultar ao Senhor. Respondeu-lhe o Senhor: Duas nações há no teu ventre, e dois povos se dividirão das tuas estranhas, e um povo será mais forte do que o outro povo, e o mais velho servirá ao mais moço”. Como bem diz o texto a escolha de Deus se resume a continuidade do chamado de Abraão seu avo para ser um dos patriarcas da nação de Israel. Portanto Deus, de maneira alguma, lançou Esaú no inferno.
O grande acerto dos calvinistas gira em torno de reconhecer a soberania divina e isso é fundamental e falta muito aos arminianos este reconhecimento.
Já o grande erro do arminianismo é dizer que o homem é livre para fazer o que quiser e isso não é bem assim. Bom os Seres humanos estão de baixo de algumas limitações bem estabelecidas por Deus, por exemplo, a lei do tempo e espaço dentre muitas outras. Aqui já observamos que as possibilidades de escolhas dos homens já estão resumidas a algumas possibilidades que Deus decretou sobre Ele, não é tão livre assim para escolher o que quiser.
Bom você pode se perguntar Mas qual é o grande acerto então do arminianismo?
É saber reconhecer que nestas pequenas possibilidades liberadas por Deus aos homens, eles sempre terão no mínimo duas opções, fazer o bem ou o mal. E nestas opções Deus não se opõe, pode até influenciar a fazer o bem, mas deixa sempre livre a liberdade de escolha.
Eu particularmente reduzo, e muito, o mecanismo de salvação arminiano, pois entendo que tem muita influência em poder colocar o homem como o “senhor de sua salvação” o que se torna heresia, pois a soberania de Deus não pode de maneira alguma ser questionada, o homem só pode decidir com as opções que Deus permitiu ele escolher.
“Quem salva é Cristo e não o homem!”
Outro risco e este sim muito grave é o “extremismo arminiano” que teve seu auge nas ultimas décadas adotando o seguinte raciocínio:
“Se sou eu que detenho o poder de decisão sobre todos os meus atos como fica Deus durante esta escolha, pois o simples fato de Deus saber o que vou decidir já me tira a prerrogativa de decisão, pois já estarei optando por algo que já foi decretado historicamente pela presciência de Deus? Sendo assim para resolver esta questão e respeitar o meu livre arbítrio Deus abre mão de saber o futuro. Assim o futuro esta sendo escrito de sacramentado durante o presente” (posição do teísmo aberto ou teologia relacional).
Esta posição do teísmo aberto (na realidade não existe teologia fechada) teve muita repercussão no Brasil através do teólogo Ricardo Gondim quando quis achar uma explicação racional para os eventos catastróficos da natureza decorrente das variações climáticas no planeta.
Respeito muito todas as formas de pensamento e o grande esforço teológico desta teologia. Só que mais uma vez observamos a tentativa fracassada de dogmatizar a Deus em sua plenitude. O que precisamos entender, e não sistematizar, é que Deus possui a sua soberania e de maneira nenhuma deixa de ter entendimento sobre toda a história da humanidade, presente, passado e futuro assim como diz o Salmo “Senhor, tu me sondas, e me conheces. Tu conheces o meu sentar e o meu levantar; de longe entendes o meu pensamento. Esquadrinhas o meu andar, e o meu deitar, e conheces todos os meus caminhos. Sem que haja uma palavra na minha língua, eis que, ó Senhor, tudo conheces. Tu me cercaste em volta, e puseste sobre mim a tua mão. Tal conhecimento é maravilhoso demais para mim; elevado é, não o posso atingir”. O próprio salmista reconhece a sua incapacidade de compreender os atributos divinos e que Deus conhece todos os seus atos antes mesmo de realiza-los, portanto Deus não abre mão de nenhuma de suas prerrogativas como bem disse o profeta Malaquias “Pois eu, o Senhor, não mudo” e também o escritor aos hebreus “é o mesmo, ontem, e hoje, e eternamente”.
Portanto Deus deu a todos os homens a salvação gratuita através do sacrifício vicário de Cristo, esta salvação esta disponível primeiramente a todos os que se achegaram a cristo, que tiveram os seus pecados cravado na cruz de Cristo e os seus atos de maldade anulados conforme escreveu Paulo aos colossenses “e havendo riscado o escrito de dívida que havia contra nós nas suas ordenanças, o qual nos era contrário, removeu-o do meio de nós, cravando-o na cruz”, mas Deus deixou claro que esta salvação somente estará disponível para todos aqueles que conseguir permanecer em Cristo e com ele vencer o poder do pecado “Ao que vencer, dar-lhe-ei a comer da árvore da vida, que está no paraíso de Deus”. E ainda “Mas quem perseverar até o fim, esse será salvo”.
Para ser salvo teremos que vencer, enquanto tivermos vencendo estamos em condição salvífica e quando se afastamos de Cristo estamos em condição condenatória. Deus somente nos deu duas possibilidades de escolha Cristo ou o pecado, não podemos fazer o que quisermos por estarmos limitados as opções que Deus nos designou.
É claro que Deus sabe quem irá se salvar e quem não conseguira, sua presciência garante isso, mas o mais fantástico disto tudo é que ele deseja e torce, e muito, para que todos se salvem até mesmo aqueles que ele já sabe que não conseguira.
Deus é soberano e nos deu a possibilidade de escolha em amá-lo ou não.
Soli Deu Gloria.
Irmão, graça e paz...
ResponderExcluirGostei muito da forma como explanou um assunto tão antigo e complexo de forma atual e muito simples.
Deus abençoe.
Shalom