segunda-feira, 1 de abril de 2013

A Igreja e a Política em um Encontro Histórico - III Parte

 A influência política no cristianismo.


O concílio de Niceia ficou historicamente conhecido por duas causas principais, a primeira foi a organização religiosa, esse foi o primeiro concílio ecumênico (do grego oikumene “mundial”) da história que tinha o objetivo de abolir uma heresia que havia surgido no meio Cristão, já a segunda causa foi a organização política, pois pela primeira vez um chefe de estado estava dirigindo uma reunião eclesiástica.

O Estado e a Igreja.

No ano do concílio, 325, o Bispo de Roma era Silvestre I [28] (nomeado papa séculos após), que não compareceu ao Concílio. A causa de seu não comparecimento até hoje é motivo de discussões, uns falam que o motivo de sua recusa ao convite do Imperador, era que, ele esperava que sua ausência representasse um protesto contra a convocação, que pela primeira vez foi expedida por um Imperador, outros dizem que Silvestre já tinha uma idade muita avançada e estava impossibilitado, portanto de comparecer e Silvestre já tinha sido informado da condenação de Ário ocorrida no Sínodo de Alexandria cinco anos antes. Apesar das duvidas sobre a verdadeira recusa do Bispo Silvestre, o que se sabe realmente é que enviou dois representantes Vito e Vicente (presbíteros romanos) ao Concílio de Niceia.

A grande questão era que poucos Bispos estavam sequer se importando com a influência do estado dentro da cristandade, ao contrario estavam muito interessados no que o império podia lhe oferecer.
Quando Constantino decidiu trazer os cristãos para o seu lado, ele não fez, porque acreditava na causa cristã, mais ele tinha plena consciência que era a única forma de salvar o Império Romano, pois o império após muitos anos de existência estava muito enfraquecido e viu na fidelidade cristã a possibilidade de ter uma sociedade unida e dominada.

Após a conversão a nova fé, Constantino relutava e não praticava a doutrina cristã, evidenciando, por meio dessas atitudes, que o cristianismo serviria somente como instrumento político, para suprimir as possíveis divergências dentro da unidade do governo, todavia, o Imperador luta com todo o vigor para a perpetuação do credo cristão. Conclui-se nesse caso, que o cristianismo apenas servira a Constantino como um meio, e não como um fim. Afirmativa que, por extensão, justifica a atitude do Imperador em fazer uso da moral cristã no intuito de regenerar a moral romana[29].

Portanto, a intenção do estado e a do clero era distinta, porém se completava, pois, o clero buscava notoriedade e o estado buscava um novo aliado. Enfim no Edito de Milão deu-se o primeiro passo e no concílio de Niceia consolidou essa união.

O resultado dessa união.

Constantino foi agindo aos pouco, quando a Igreja percebeu, ele já a dominava plenamente. Primeiro ato de Constantino foi influenciar o Imperador Galério a assinar o Edito de Tolerância de 311 como se segue:
“...usando de nossa habitual clemência em perdoar a todos (...) outorgando-lhes o direito de existir novamente (...) com a ressalva de que não ofenda a ordem pública (...) Em contra partida a esta nossa indulgência, os cristãos obrigar-se-ão a orar a seu Deus por nosso restabelecimento...” [30]
Nosso restabelecimento aqui é a saúde do Imperador Galério que estava enfermo e agonizando, supostamente, Constantino, persuadiu com a promessa que o Deus dos cristãos podia cura-lo de suas chagas. Após conseguir a tolerância, Constantino, teve fundamental influência no Edito de Milão em 313 que outorgava “Pareceu-nos justo que todos, cristãos inclusive, gozem da liberdade”[31] alcançando assim a total liberdade aos cristãos.

Logo que a liberdade estava mantida, os cristãos agora não eram mais marginais fora da Lei, Constantino pode então se aproximar com amparo da Lei e ofereceu ajuda financeira, isenção de imposto, transporte, restituição de bens e propriedades sem ônus e colocou estrutura pública em favor dos clérigos.

Como agradecimento os clérigos o tratavam como líder temporal máximo da Igreja, dando-lhes a prerrogativa de dirigir os trabalhos internacionais e direito a palavra e voto nessas reuniões, cabia também ao Imperador organizar as dioceses, regulamentando as transferências de Bispo, cabendo-o ainda a aprovação ou não dessa transferência de diocese. A disciplina dos Bispos também era creditada ao Imperador. Esses foram os primeiros passos de Constantino para dominar a Igreja.

Quando foi instaurado o Concílio de Nicéia os Bispos estavam tão preocupados com a questão do arianismo, que nem se deram conta que, ali, naquele momento, Constantino lançava sua coleira na Igreja, seu passo final para dominar de uma só vez a Igreja de Cristo e salvar o Império romano de sua decadência eminente[32].

A partir desse dia Roma tinha o domínio total sofre a fé cristã, o que ocasionou no ano de 380 o Edito de Tessalônica, que adotava o cristianismo como religião oficial do império, este edito foi promulgado pelo último Imperador romano, Teodósio. Este documento foi escrito na tentativa de manter a unidade do Império, que já começava a se fragmentar devido à péssima atuação político-administrativa e a se defender das frequentes invasões bárbaras.

Mas não obstante o Senhor ter assim livrado o seu povo de muitos perigos, foram os próprios cristãos que prepararam para si bastante trabalho pelas suas loucuras. As atitudes e procedimentos adotados pelo clero, com ressalvas a algumas brilhantes exceções, tornaram o clero notavelmente irregular. Em todas as dioceses havia contenda, e falta de respeito entre os sacerdotes, por exemplo, a diocese de Roma tinha decaído a tal ponto, que dois candidatos ao bispado, Lourenço e Simaco, nos esforços que empregaram para obter o lugar, não temeram fazer as mais graves acusações um ao outro.

O atrevimento do clero revela-se de um modo notável, no fato de que Martinho Bispo de Tours, que era um cristão fiel e dedicado, consentiu em ser servido à mesa pela mulher do Imperador Máximo, vestida como uma criada! Também se conta deste Bispo outra história da mesma espécie. Estando um dia a jantar com o Imperador, este passou-lhe a sua taça, pedindo que bebesse primeiro, Martinho assim fez com grande ostentação, mas antes de restituir a taça ao Imperador, passou-a ao seu capelão, fazendo observações de que os príncipes e potentados estavam abaixo da dignidade de padres e Bispos [33].

Procurando se distinguir do povo, dando inclusive cargos a alguns cristãos menos talentosos, levou a Igreja a criar vários cargos, como, subdiaconato, leitores ajudantes, acólitos [34], exorcistas e porteiros. Além de tudo isso também se tornara comum a adoração das imagens e a invocação dos santos. Ouve também uma perseguição terrível, o Bispo Nestor por se recusar a empregar o termo "Mãe de Deus" referindo-se à virgem Maria. Tudo isso vem somar decadência total que passava a Igreja e nos mostra muito claramente em qual direção e a Igreja estava prosseguindo.

Logo após a morte de Constantino, começou o esforço pela supremacia episcopal. Neste período o Bispo de Roma era reconhecido como o primeiro entre os iguais [35] Essa disputa entre os Bispos ganhou muita notoriedade no ano 440 quando Leão I assumiu o posto e apresentou os seus direitos ao governo universal na Igreja, como sucessores de Pedro. Parece que muitos cristãos acreditavam realmente nesse tempo que Pedro fora o fundador da comunidade cristã romana, sobre isto escreveu o Dr. Knight[36]
“Quando Leão I asseverou que o apóstolo foi chamado Petra, isto é, a rocha, para significar que foi ele quem constituiu o alicerce da Igreja, e advertiu os irmãos a que reconhecessem que ele foi o primeiro de todos os Bispos continua “e que Cristo, que não nega os seus dons a ninguém, também não os dá a ninguém senão por meio dele”. 
Milhares de cristãos prontamente receberam a explicação, e escutaram-na com submissão e aceitaram essa advertência. Essa disputa se encerrou no ano de 590, foi quando o Bispo de Roma, Gregório I, o grande, recebe a atribuição de papa universal, titulo que ele rejeitou, mais se utilizou de todas as prerrogativas que este lhe concedera.

O que vemos nesta evolução histórica do cristianismo é que antes de 311, não havia poder temporal nas mãos dos Bispos, o que a partir desta vem a acontecer. E quando este poder chega aos ministros de Cristo, eles começam a derrapar em sua fé, começa a ceder a tentação do cargo, assim perde toda a sua humildade e piedade, levando-os a extrema cobiça deste mundo, poder, poder e mais poder.

CONCLUSÃO.

Mas, a Igreja pode exercer poder público?

Pode ela ter em suas mãos o poder temporal e atemporal ao mesmo tempo?

Vejamos o que a história vai revelar nessa relação, pois a partir do ano de 311 até o dia de hoje temos mais de 1.700 anos dessa relação e os seus reflexos pode nos dar uma exata noção deste assunto tão presente em nossos dias.

O grande fato, evidentemente, e que a Igreja não soube conviver com o poder temporal, desde que possuiu essa prerrogativa, ela caminhou a passos largos, rumo à corrupção do caráter cristão de sua liderança, refletindo inclusive, em sua conduta para a comunidade e o mais necessitados, isso tudo eclodiu em um grande cisma e principalmente na reforma protestante com o monge Martinho Lutero, resultando na formação da Igreja Ortodoxa, caso do grande cisma, e nas Igrejas Protestantes, caso da reforma.

Hoje, por incrível que pareça, a história não mudou muito. A antiga Igreja Católica continua completamente fora dos ideais iniciais, existe corrupção por todos os lados exemplos não faltam como vatileaks, o "Banco do Vaticano", os grandes latifúndios em muitos países.

Por ironia da história, a Igreja Protestante, que nasceu para acabar com essa prática, encontra-se também, impregnada com essa doutrina. No Brasil, por exemplo, existe a chamada “bancada evangélica”, que após uma grande debandada, na legislatura anterior (2008 à 2012) estava contando com 37 membros. Essa bancada foi alvo de uma denúncia, verdadeira por sinal, que cometia irregularidades em vendas de ambulância para o sistema público de saúde, entre outros crimes também comprovados[37]. Em 2012 esta bancada se rearticulou e conseguiu reverter a perca de membros causada pelas denúncias, passaram então a contar com 66 membros, sendo 63 deputados e 3 senadores do congresso federal, em sua maiorioa pastores de seus respectivos ministérios.

A Igreja deve então ter representante no poder público?

Sim, é a nossa resposta, mas com uma ressalva. Hoje a Igreja deve profissionalizar as suas secretárias, devemos ter pessoas capacitadas profissionalmente para cada setor, o presente século necessita disto, mas não podemos colocar sacerdotes em função temporal, O Pastor, Bispo, Presbítero, Padre, Arcebispo, Cardeal etc., são ministro de Deus, consagrados ao santo oficio das atividades sacerdotais, de forma alguma deve se colocar em posição publica estatal, pois o poder público atrapalha a doação na obra de Deus.

Estamos preparados parados para o futuro?

Esta foi a nossa pergunta inicial. Sim, mas infelizmente, temos que lutar para não se adequarmos a nossa situação presente.

Podemos e devemos mudar



"E não vos conformeis a este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente"
                                                                                                                Romanos 12:2




Soli Deo Gloria.
 

[1] Utilizamos aqui este termo no sentido mais antigo da palavra, como aquilo que denota o “poder metafísico”.
[2] BETTENSON, Henry. Documentos da Igreja Cristã..São Paulo: Aste, 2007. p.47.
[3] MEDEIROS, Silvio. AULA DE HISTÓRIA III: O Edito de Milão e a consolidação histórica do Cristianismo. Disponível em: http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/2.5/br/.
[4] KNIGHT, A.E., ANGLIN, W. História do cristianismo. 2ª ed,. Rio de Janeiro: CPAD, 1983. p.20.
[5] KNIGHT, A.E., ANGLIN, W. op. cit. p.31.
[6] MEDEIROS, Silvio. op. cit.
[7] Informações retiradas do artigo “Constantino I” da Enciclopédia eletrônica livre Wikipédia disponível em: www.Wikipédia.com.br.
[8] KNIGHT, A.E., ANGLIN, W. op. cit. p.33.
[9] CURTIS, A. Kenneth.Os 100 acontecimentos mais importantes da história do cristianismo: do incêndio de Roma ao crescimento da igreja na China .trad. Emirson Justino. São Paulo: Editora Vida, 2003. p.28.
[10] EUSÉBIO, História Eclesiástica,São Paulo: Editora Novo Século, 2002. p.198.
[11] BETTENSON, Henry op. cit. p.49.
[12] EUSÉBIO, op. cit. pp. 211-2.
[13] BETTENSON, Henry op. cit. p.51.
[14] EUSÉBIO, op. cit. pp. 205-6.
[15] MEDEIROS, Silvio. op. cit.
[16] KNIGHT, A.E., ANGLIN, W. op. cit. p.34.
[17] Oficialmente o Concílio de Nicéia foi convocado pelo Imperador Constantino e foi presidido por Alexandre, Bispo de Alexandria ou Ósio, Bispo de Córdoba, mas é de conhecimento de todos que esta presidência era na verdade conduzida por Constantino.
[18] CURTIS, A. Kenneth. op. cit. p.30.
[19] Idem, Ibidem.
[20] CURTIS, A. Kenneth. op. cit. p.30.
[21] BRANDT, Steve. O Concílio de Nicéia. Apostolado Veritatis Splendor, Disponível em: http://www. veritatis. com.br/article/4328.
[22] Informações retiradas do artigo “Primeiro Concílio de Nicéia” da Enciclopédia eletrônica livre Wikipédia disponível em: www.Wikipédia.com.br.
[23] BETTENSON, Henry op. cit. p.62.
[24] Ek tes oysías toy patrós – “do mais íntimo ser do Pai” – unido inseparavelmente.
[25] Homooysion tõ patrí – ser inido intimamente com o Pai; embora distintos em existência, estão essencialmente unidos.
[26] Enanthôpésanta – tomando sobre si tudo aquilo que faz homem ao homem.
[27] Eks oyk óntôn – “do nada”.
[28] Informações retiradas do artigo “Primeiro Concílio de Nicéia” da Enciclopédia eletrônica livre Ocultura disponível em: http://www.ocultura.org.br.
[29] MEDEIROS, Silvio. op. cit.
[30] BETTENSON, Henry op. cit. p.49.
[31] Idem, Ibidem.
[32] CAIRNS, Earle E. O cristianismo através dos séculos:uma história da Igreja cristã.trad. Israel Belo de Azevedo.2. ed. São Paulo: Vida nova, 1995. p.107.
[33] KNIGHT, A.E., ANGLIN, W. op. cit. pp.45-6.
[34] Acompanhador do Ajudante.
[35] CAIRNS, Earle E. op. cit. p.127
[36] KNIGHT, A.E., ANGLIN, W. op. cit. pp.48-9.
[37] Números de 2007 antes das denúncias (menssalão e sanguessuga) esse número era de cerca de 70 deputados.

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BIBLIOGRAFIA (Geral).

BETTENSON, Henry. Documentos da Igreja Cristã..São Paulo: Aste, 2007. 452 p.
BÍBLIA Shedd: Antigo e Novo Testamento. Trad. João Ferreira de Almeida. 2.ed. rev. e atualiz. no Brasil. São Paulo: Vida Nova; Brasília: Sociedade Bíblica do Brasil, 1997. 1929 p.
CAIRNS, Earle E. O cristianismo através dos séculos:uma história da Igreja cristã.trad. Israel Belo de Azevedo.2. ed. São Paulo: Vida nova, 1995. 508 p.
CURTIS, A. Kenneth. Os 100 acontecimentos mais importantes da história do cristianismo: do incêndio de Roma ao crescimento da igreja na China .trad. Emirson Justino. São Paulo: Editora Vida, 2003. 205 p..
EUSÉBIO, História Eclesiástica,São Paulo: Editora Novo Século, 2002. 223 p.
KNIGHT, A.E., ANGLIN, W. História do cristianismo. 2ª ed,. Rio de Janeiro: CPAD, 1983. 223 p.
PERES, Alcides Conejeiro. O catolicismo romano através dos tempos: uma análise de sua história e doutrinas. Rio de Janeiro: JUERP, 1995. 146 p.

Bibliografia eletrônicas.

BRANDT, Steve. O Concílio de Nicéia. Apostolado Veritatis Splendor, Disponível em: http://www. veritatis. com.br/article/4328. Acesso em: 28 de Março de 2013.
MEDEIROS, Silvio. AULA DE HISTÓRIA III: O Edito de Milão e a consolidação histórica do Cristianismo. Disponível em: http://www.recantodasletras.com.br/redacoes/571238. Acesso em: 28 de Março de 2013
VARO, Francisco. O que aconteceu no Concílio de Nicéia? Disponível em: http://www.opusdei.org.br/art.php?p=16353 Acesso em: 28 de Março de 2013.
WIKIPÉDIA, Enciclopédia eletrônica livre. Artigo “Constantino I” disponível em: www.Wikipédia.com.br. Acesso em: 28 de Março de 2013
WIKIPÉDIA, Enciclopédia eletrônica livre. Artigo “Primeiro Concílio de Nicéia” disponível em: www.Wikipédia.com.br. Acesso em: 28 de Março de 2013
OCULTURA, Enciclopédia eletrônica livre. Artigo “Primeiro Concílio de Nicéia” da disponível em: http://www.ocultura.org.br. Acesso em: 28 de Março de 2013

sexta-feira, 29 de março de 2013

A Igreja e a Política em um Encontro Histórico - II Parte

Continuação...
A Situação da Igreja no IV Século.

O problema da Igreja.

Enfim a Igreja se encontrava livre para suas atividades. Depois do edito de Milão todas as propriedades deveriam ser devolvidas assim como os seus bens. Pastores não poderiam ser mais presos por causa de sua fé, o culto estava liberado em todo o império. Assim, a Igreja passou de perseguida a privilegiada em um período de tempo surpreendentemente curto, suas perspectivas mudaram por completo.

Depois de séculos como movimento contra-cultural, a Igreja precisava agora, aprender a lidar com o poder recebido do estado. A própria presença dinâmica de Constantino modelou a Igreja do século IV. Esse modelo serviu de base para os séculos posteriores. Constantino era um mestre do poder e da política, e a Igreja aprendeu com Constantino, usar essas ferramentas.

Tudo isso somou para um grande avanço do cristianismo nesta época, grande templos cristãos começavam a ser construídos, como relata Eusébio de Cesareia.
“E assim, todo o terreno que demarcou era muito maior. Por fora fortificou o recinto com um muro em toda a volta, de maneira que fosse uma defesa segura para toda a obra” e continua o Bispo de Cesareia “Quanto ao edifício basilical  consolidava-o com materiais mais ricos e abundantes, sem regatear gastos”[12].
Nesta época o cristianismo não tinha mais o foco em converter pessoas, pois o cristianismo era a religião protegida do império muitos pagãos começavam a aderir ao cristianismo não por convicção mais por benefícios sociais. Os Bispos por sua vez perderam a bondade e piedade para com o povo e para com Deus, estavam somente interessados em construir grandes templos, obras grandiosas, com o intuito de ser conhecidos diante do Imperador, para assim ganhar donativos pessoais do império.

Era tudo o que o Imperador precisava para colocar os seus verdadeiros ideais na mesa, e quando a Igreja percebeu já estava completamente corrompida, sem forças para lutar, decidindo então se aliar com os padrões da época.

A relação do Imperador com os Bispos.

Quando se fala em relacionamento entre autoridade estatal e autoridade eclesiástica, temos que ser muito cauteloso, pois o assunto necessita de grande atenção e apreço, da nossa parte.

Olhando para a história cristã de até então, nunca houve uma aproximação amigável e política entre essas duas autoridades, Jesus, por exemplo, nunca se uniu ao governo de sua época, ao contrario ele disse “O meu reino não é deste mundo” (Jo 18.36). Mas Jesus apregoou o respeito e obediência aos governantes, pois é Deus que os constitui.

Agora, em anos anteriores houve perseguição, e grande por sinal, vejamos que uma aproximação era praticamente impossível. Os Bispos só tinham acesso ao Imperador, quando estava ali esperando sua sentença, pela fé não negada. Mas o fato é que após o Edito de Milão, os Bispos se empenharam a construir os seus próprios impérios. Estavam gozando de credibilidade junto ao Imperador, que por sua vez mandavam quantias incontáveis aos Bispos de cada diocese. Como relata uma carta de Constantino a Ceciliano, Bispo de Cartago no ano de 313.
“ Parecendo-nos próprio que se conceda algo para os gastos de determinados ministros da legitima e muito santa religião cristã da África, Numídia e das duas Mauritânias, enviei cartas a Urso, varão ilustre, a fim de que proporcionasse a Vossa Firmeza o pagamento de três mil Óbolos”[13] 
Sobre isto também escreveu Eusébio
“Os supremos Imperadores, com suas contínuas legislações em favor dos cristãos, vinham a confirmar, ampliando-as e aumentando-as, as mercês da munificência de Deus. Também aos Bispos repetiam-se cartas pessoais do Imperador, honras e doações em dinheiro”[14]. 
Desta forma Constantino tinha o total controle sobre o clero e o império já não tinha a ameaça de uma revolta cristã, motivo a qual se deu todas as perseguições em anos anteriores. Como ressalta a opinião do Dr. Silvio Medeiros
“Desse modo, o cristianismo foi utilizado como instrumento de pacificação e unificação do Estado romano” continua “De outra parte, a justificativa cristã de que o poder dos Imperadores é determinado pelo direito divino concedeu a Constantino o privilégio de exercer com facilidade a Monarquia Absoluta Romana.”[15]
O auto clero da Igreja pode presenciar o espetáculo extraordinário, um Imperador romano estava presidindo os concílios da Igreja e tomado parte nos debates, sem que o clero se importasse com este fator, achando até que isto era um mover de Deus para com a sua Igreja como diz o historiador Knight[16]
“Em geral os cristãos não se ressentiam desta intrusão, pelo contrário consideravam-na como um auspicioso e feliz presságio” completa o Dr Kight “em lugar de censurar o Imperador pelo seu intrometimento, receberam-no como Bispo dos Bispos. O povo de Deus aceitou a proteção de um estado semi-pagão, e o cristianismo sofreu a maior degradação possível com a proteção de um potentado do mundo”.

O Concílio de Niceia.

O concílio de Niceia foi o primeiro Sínodo Ecumênico da história da Igreja Cristã. Foi realizado na cidade de Niceia no ano de 325, e tinha como maior objetivo discutir a doutrina cristológica do jovem Ário, presbítero de Alexandre, bem como alguns outros assuntos como a celebração da Páscoa, o cisma de Milécio, o batismo de heréticos a causa dos prisioneiros na perseguição de Licínio. Sem duvida alguma a questão ariana ganhou toda a atenção dos mais de 300 Bispos presentes neste concílio, deixando assim as outras questões em segundo plano.

Como já citado o concílio foi presidido pelo Imperador romano Constantino [17] que cedeu sua residência pessoal que tinha em Nicéia. Foi também oferecido pelo Império aos Bispos todas as comodidades do sistema de transporte imperial gratuitamente e ótimos alojamento no local da conferência, tudo isso visando a maior audiência possível.
“Vestido com roupas cheias de pedras incrustadas e multicoloridas, Constantino abriu o concílio. Ele disse aos mais de trezentos Bispos que compareceram àquela reunião que deveriam resolver o impasse. A divisão da Igreja, disse, era pior do que uma guerra, porque esse assunto envolvia a alma eterna.”[18]
A questão Ariana.

Ário, pastor na cidade de Alexandria, no Egito, excelente pregador, grande erudito dotado de um poder de persuasão muito grande, adepto ao ascetismo e também da teologia grega, que ensinava que Deus é um só e não pode ser conhecido. A base doutrinária deste conhecimento é: – Deus é tão radicalmente singular que não pode partilhar sua substância com qualquer outra coisa, somente Deus pode ser Deus. Assim Jesus seria um ser criado, divino, mas criado como qualquer outro ser. Ário também escreveu um livro intitulado de Thalia, nesta obra Ário proclama que Jesus era divino, mas não era Deus.
“Somente Deus, o Pai, poderia ser imortal, de modo que o Filho era, necessariamente, um ser criado. Ele era como o Pai, mas não era verdadeiramente Deus”. [19]

Esta doutrina adotada por Ário vinha de encontro à questão soteriológica da Igreja, pois se Cristo era um semi-deus, ser muito inferior a Deus, como poderia salvar o homem? Bispo Alexandre, de Alexandria, Pastor de Ário, adotava este raciocínio, dizia ele: – "Para que Jesus pudesse salvar a humanidade pecaminosa, ele precisava ser verdadeiramente Deus".

O Bispo Alexandre conseguiu que seu presbítero Ário fosse condenado por um sínodo, ocorrido na cidade de Alexandria, mas Ário era muito popular, tinha muitos adeptos, então rapidamente surgiram vários distúrbios em Alexandria devido a essa melindrosa disputa teológica, e outros clérigos começaram a se posicionar em favor de Ário.


“Muitos ex-pagãos se sentiam confortáveis com a opinião de Ário, pois, assim, podiam preservar a idéia familiar do Deus que não podia ser conhecido e podiam ver Jesus como um tipo de super-herói divino, não muito diferente dos heróis humanos-divinos da mitologia grega. Por ser um eloqüente pregador, Ário sabia extrair o máximo de sua capacidade de persuação e até mesmo chegou a colocar algumas de suas idéias em canções populares, que o povo costumava cantar”[20].
O Concílio.

Aberto oficialmente no dia 20 de maio de 325 e encerrado no dia 19 de junho do mesmo ano. Tendo na sua abertura oficial o discurso de Constantino vestido com roupas cheias de pedras incrustadas e multicoloridas, Ele disse aos mais de trezentos Bispos que compareceram àquela reunião que deveriam resolver o impasse. A divisão da Igreja, disse ele, era pior do que uma guerra, porque esse assunto envolvia a alma eterna.

Neste concílio havia três partidos formados o primeiro era liderado por Ário, que contava com o apoio de Eusébio, Bispo de Nicomédia. O segundo partido era liderado pelo Jovem Atanásio, que confessava que Cristo co-existiu com o Pai desde a eternidade e era da mesma substancia do Pai, mas tinha personalidade distinta. Já o terceiro partido foi o que representava a grande maioria dos Bispos presentes, tinha como seu líder o erudito e historiador Eusébio de Cesaréia, que adotou uma cristologia com uma posição equilibrada, não descartando pressupostos dos outros dois partidos, confessou ele que Cristo não era um ser criado, mais foi gerado pelo Pai antes da eternidade, sendo da mesma essência que o Pai, assim possuía personalidade diferente.


O Imperador Constantino coordenou os debates. Conduzindo a celeuma diante dos Bispos, Ário então com a palavra proclamou abertamente na reunião. “Jesus o Filho de Deus era um ser criado, não era eterno, e por ser diferente do Pai, era passível de mudança”. Os Bispos do Concílio contrários a esta ideia pararam de ouvir as suas palavras e imediatamente rejeitaram suas doutrinas, entendendo que eram distantes e estranhas à fé da Igreja. Eles rasgaram uma carta de Eusébio de Nicomédia contendo o ensinamento de Ário, bem como uma confissão da fé ariana[21].

A assembléia denunciou e condenou a afirmação de Ário, mas eles precisavam ir além disso. Era necessário elaborar um credo que proclamasse sua própria visão, assim nasceu o credo de Niceia.

A profissão de Fé e os cânones do Concílio de Niceia [22]

O Concílio de Niceia estabeleceu 20 cânones, os quais darão seqüência ao Credo. Um breve resumo de seu conteúdo:

Atas do Concílio de Niceia

Cânon I - Eunucos podem ser recebidos entre os clérigos, mas não serão aceitos aqueles que se castram.
Cânon II - Referente a não promoção imediata ao presbiterato daqueles que provieram do paganismo.
Cânon III - Nenhum deles deverá ter uma mulher em sua casa, exceto sua mãe, irmã e pessoas totalmente acima de suspeita.
Cânon IV - Relativo a escolha dos Bispos.
Cânon V - Relativo a excomunhão.
Cânon VI – Relativo aos patriarcas e sua jurisdição.
Cânon VII - O Bispo de Jerusalém seja honorificado, preservando-se intactos os direitos da Metrópole.
Cânon VIII - Refere-se aos novacianos.
Cânon IX - Quem quer que for ordenado sem exame deverá ser deposto, se depois vier a ser descoberto que foi culpado de crime.
Cânon X - Alguém que apostatou deve ser deposto, tivessem ou não consciência de sua culpa os que o ordenaram.
Cânon XI - Penitência que deve ser imposta aos apóstatas na perseguição de Licinio.
Cânon XII - Penitência que deve ser feita àqueles que apoiaram Licinio na sua guerra contra os cristãos.
Cânon XIII - Indulgência que deve ser dada aos moribundos.
Cânon XIV – Penitência que deve ser imposta aos catecúmenos que caíram em apostasia.
Cânon XV - Bispos, presbíteros e diáconos não se transferirão de cidade para cidade, mas deverão ser reconduzidos, se tentarem fazê-lo, para a Igreja para a qual foram ordenados.
Cânon XVI - Os presbíteros ou diáconos que desertarem de sua própria Igreja não devem ser admitidos em outra, mas devem ser devolvidos à sua própria diocese. A ordenação deve ser cancelada se algum Bispo ordenar alguém que pertence a outra Igreja, sem consentimento do Bispo dessa Igreja.
Cânon XVII - Se alguém do clero praticar usura deve ser excluído e deposto.
Cânon XVIII - Os diáconos devem permanecer dentro de suas atribuições. Não devem administrar a Eucaristia a presbíteros, nem tomá-la antes deles, nem sentar-se entre os presbíteros. Pois que tudo isso é contrário ao cânon e à correta ordem.
Cânon XIX - As regras a se seguir a respeito dos partidários de Paulo de Samósata que desejam retornar a Igreja.
Cânon XX - Nos dias do Senhor [refere-se aos domingos] e de Pentecostes, todos devem rezar de pé e não ajoelhados.

Nas atas do Concílio de Niceia assinadas por todos os Bispos participantes, com exceção dos dois seguidores de Ário, constou o texto da seguinte profissão de Fé:







Credo de Niceia.[23]

Cremos em um só Deus, Pai onipotente, criador de todas as coisas, visíveis e invisíveis; E em um só Senhor, Jesus Cristo, o Filho de Deus, gerado do Pai, unigênito, isto é, da substância [24] do Pai, Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não feito, de uma só substancia [25] com o Pai, pelo qual foram feitas todas as coisas, as que estão no céu e as que estão na terra; o qual, por nós homens e por nossa salvação, desceu, se encarnou e se fez homem [26], e sofreu e ressuscitou ao terceiro dia, subiu ao céu e novamente deve vir para julgar os vivos e os mortos; E no Espírito Santo. E a quantos dizem: “Ele era quando não era”, e “Antes que nascer, Ele não era”, ou que “foi feito do não existente”[27], bem como a quantos alegam ser o Filho de Deus “de outra substância ou essência”, ou “feito” ou “mutável”, ou “alterável” a todos estes a Igreja Católica e Apostólica anatematiza.

Soli Deo Gloria.

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Notas (I e II Parte)

[1] Utilizamos aqui este termo no sentido mais antigo da palavra, como aquilo que denota o “poder metafísico”.
[2] BETTENSON, Henry. Documentos da Igreja Cristã..São Paulo: Aste, 2007. p.47.
[3] MEDEIROS, Silvio. AULA DE HISTÓRIA III: O Edito de Milão e a consolidação histórica do Cristianismo. Disponível em: http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/2.5/br/.
[4] KNIGHT, A.E., ANGLIN, W. História do cristianismo. 2ª ed,. Rio de Janeiro: CPAD, 1983. p.20.
[5] KNIGHT, A.E., ANGLIN, W. op. cit. p.31.
[6] MEDEIROS, Silvio. op. cit.
[7] Informações retiradas do artigo “Constantino I” da Enciclopédia eletrônica livre Wikipédia disponível em: www.Wikipédia.com.br.
[8] KNIGHT, A.E., ANGLIN, W. op. cit. p.33.
[9] CURTIS, A. Kenneth.Os 100 acontecimentos mais importantes da história do cristianismo: do incêndio de Roma ao crescimento da igreja na China .trad. Emirson Justino. São Paulo: Editora Vida, 2003. p.28.
[10] EUSÉBIO, História Eclesiástica,São Paulo: Editora Novo Século, 2002. p.198.
[11] BETTENSON, Henry op. cit. p.49.
[12] EUSÉBIO, op. cit. pp. 211-2.
[13] BETTENSON, Henry op. cit. p.51.
[14] EUSÉBIO, op. cit. pp. 205-6.
[15] MEDEIROS, Silvio. op. cit.
[16] KNIGHT, A.E., ANGLIN, W. op. cit. p.34.
[17] Oficialmente o Concílio de Nicéia foi convocado pelo Imperador Constantino e foi presidido por Alexandre, Bispo de Alexandria ou Ósio, Bispo de Córdoba, mas é de conhecimento de todos que esta presidência era na verdade conduzida por Constantino.
[18] CURTIS, A. Kenneth. op. cit. p.30.
[19] Idem, Ibidem.
[20] CURTIS, A. Kenneth. op. cit. p.30.
[21] BRANDT, Steve. O Concílio de Nicéia. Apostolado Veritatis Splendor, Disponível em: http://www. veritatis. com.br/article/4328.
[22] Informações retiradas do artigo “Primeiro Concílio de Nicéia” da Enciclopédia eletrônica livre Wikipédia disponível em: www.Wikipédia.com.br.
[23] BETTENSON, Henry op. cit. p.62.
[24] Ek tes oysías toy patrós – “do mais íntimo ser do Pai” – unido inseparavelmente.
[25] Homooysion tõ patrí – ser inido intimamente com o Pai; embora distintos em existência, estão essencialmente unidos.
[26] Enanthôpésanta – tomando sobre si tudo aquilo que faz homem ao homem.
[27] Eks oyk óntôn – “do nada”.


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BIBLIOGRAFIA (Geral).

BETTENSON, Henry. Documentos da Igreja Cristã..São Paulo: Aste, 2007. 452 p.
BÍBLIA Shedd: Antigo e Novo Testamento. Trad. João Ferreira de Almeida. 2.ed. rev. e atualiz. no Brasil. São Paulo: Vida Nova; Brasília: Sociedade Bíblica do Brasil, 1997. 1929 p.
CAIRNS, Earle E. O cristianismo através dos séculos:uma história da Igreja cristã.trad. Israel Belo de Azevedo.2. ed. São Paulo: Vida nova, 1995. 508 p.
CURTIS, A. Kenneth. Os 100 acontecimentos mais importantes da história do cristianismo: do incêndio de Roma ao crescimento da igreja na China .trad. Emirson Justino. São Paulo: Editora Vida, 2003. 205 p..
EUSÉBIOHistória Eclesiástica,São Paulo: Editora Novo Século, 2002. 223 p.
KNIGHT, A.E., ANGLIN, W. História do cristianismo. 2ª ed,. Rio de Janeiro: CPAD, 1983. 223 p.
PERES, Alcides Conejeiro. O catolicismo romano através dos tempos: uma análise de sua história e doutrinas. Rio de Janeiro: JUERP, 1995. 146 p.

Bibliografia eletrônicas.

BRANDT, Steve. O Concílio de Nicéia. Apostolado Veritatis Splendor, Disponível em: http://www. veritatis. com.br/article/4328. Acesso em: 28 de Março de 2013.
MEDEIROS, Silvio. AULA DE HISTÓRIA III: O Edito de Milão e a consolidação histórica do Cristianismo. Disponível em: http://www.recantodasletras.com.br/redacoes/571238. Acesso em: 28 de Março de 2013
VARO, Francisco. O que aconteceu no Concílio de Nicéia? Disponível em: http://www.opusdei.org.br/art.php?p=16353 Acesso em: 28 de Março de 2013.
WIKIPÉDIA, Enciclopédia eletrônica livre. Artigo “Constantino I” disponível em: www.Wikipédia.com.br. Acesso em: 28 de Março de 2013
WIKIPÉDIA, Enciclopédia eletrônica livre. Artigo “Primeiro Concílio de Nicéia” disponível em: www.Wikipédia.com.br. Acesso em: 28 de Março de 2013
OCULTURA, Enciclopédia eletrônica livre. Artigo “Primeiro Concílio de Nicéia” da disponível em: http://www.ocultura.org.br. Acesso em: 28 de Março de 2013

quinta-feira, 28 de março de 2013

A Igreja e a Política em um Encontro Histórico - I Parte

Constantino conduzindo o Concílio de Niceia
Esta publicação é um ensaio (que postarei em 3 partes) que tem por objetivo aguçar a mente dos caros leitores e leva-lós a uma reflexão da situação atual em que se encontra as Igrejas Cristãs, sejam elas católicas, protestantes ou ortodoxas.

Visa expor a historicidade dos fatos, que levaram a Igreja a um profundo mergulho nas entranhas do poder e da política, bem como as suas práticas de relacionamento com seu público alvo, os fieis cristãos.

Viajem comigo neste estudo, assim reflita e tire as suas próprias conclusões.

Segue a primeira parte:

A história eclesiástica sempre aguça a nossa curiosidade, ficamos impactados pelos acontecimentos que tem marcado o crescimento da nossa instituição, seus mártires, pregadores, templos, reuniões e por aí vai

Somos educados há muito tempo com um ditado popular onde diz – “Temos que descobrir o passado para entender o presente e se preparar para o futuro”. Olhando para essa necessidade abordamos aqui a influência do estado e o seu poder na Igreja do Senhor.

Pesquisando a história descobrimos que foi no Concílio de Niceia onde esse poder ficou evidente. Analisamos a fundo esse sínodo e descobrimos alguns de seus desdobramentos através dos séculos subsequentes. Analisamos também os editos anteriores que tornaram esta reunião possível, como o Edito de Tolerância e o Edito de Milão. Da questão ariana ao papado, da liberdade do Edito de Milão às 95 teses de Lutero, tudo foi analisado e pesquisado para obter um único substrato, o poder estatal.

Questões relevantes como a junção entre os poderes temporal e atemporal [1], foi levada ao leitor de uma forma imparcial, no que for possível de nossa parte, buscando sempre deixar o fato falar por si só, esta foi a nossa metodologia. Sem esquecer-se desses reflexos no mundo capitalista de hoje, pois o próprio lhe propicia, e muito. E esse é o nosso objetivo principal entender o presente século.

Estamos preparados para o futuro? Vejamos na conclusão destas publicações.

Pressupostos históricos.

A Perseguição

Após três séculos de existência, o cristianismo apesar de muita perseguição crescia de forma grandiosa. Todas as grandes cidades do império romano tinham um número satisfatório de convertidos ao cristianismo. E mesmo com essa resistência do estado, a Igreja não parava de crescer, mas foi na última tetrarquia romana do quarto século, que era formada pelos quatros tiranos, o Imperador Diocleciano (284 – 305), Maximiliano, Galério e Constantino Cloro, pai de Constantino, o Grande. Foi neste período então que a Igreja encontrou o seu maior obstáculo, uma perseguição jamais vista até aquela época.

Diocleciano (245 – 316), Gaius Aurelius Valerius Diocletianus” influenciado por Galério, ordenou em Março de 303 que fossem destruídas todas as Igrejas, os livros cristãos deveriam ser todos queimados na fogueira, as reuniões estavam expressamente proibidas, assim como também toda a organização eclesiástica estava dispensada de seu exercício ministerial, os cristãos seriam obrigados a sacrificar aos deuses, caso se negassem seriam presos, sendo negada a liberdade até mesmo a seus familiares[2]. Todos os que desrespeitassem essas normas seriam preso e passiveis até de morte.

Contudo, o Imperador Galério, prevendo o cristianismo como o último obstáculo à consolidação de um governo absolutista[3], tinha um grande ódio pelos cristãos, era genro do Imperador Diocleciano, e exercia uma influência fatal sobre ele. Persuadiu-o de que o cristianismo se opunha aos melhores interesses do povo, e que o meio de fazer reviver as antigas glórias do império era arrancar pela raiz aquela odiosa religião e destruí-la completamente”[4]. Para poder atingir esse objetivo, Galério buscou apoio e auxílio entre os mestres da filosofia e dos sacerdotes pagãos.

Após oito anos de extrema perseguição aos cristãos e observando que não estava produzindo o efeito desejado pelos Imperadores, pois existia um sentimento de alegria intensa no meio do povo cristão, que de forma alguma negava sua fé, demonstrando essa alegria até mesmo em situação de extrema dor, causado pelos castigos imposto pelo império. Como relata em sua obra o Dr. Knight:
No Egito, os cristãos sofreram o martírio aos grupos, tendo havido dia de sessenta a oitenta mortes. Romano, o diácono de Antioquia, quando foi ameaçado com a tortura, exclamou: ‘Oh! Imperador, recebo gostosamente a tua sentença; não me recuso a ser torturado a favor dos meus irmãos, ainda que seja pelos meios mais cruéis que possas inventar’. Quando o executor hesitava em continuar o seu terrível trabalho, em conseqüência de a vítima pertencer à nobreza, Romano disse: Não é o sangue dos meus antepassados que faz com que eu seja nobre, mas sim a minha profissão cristã. Depois de ter recebido muitas feridas no rosto, ex-clamou: ‘Agradeço-te capitão, por me teres aberto tantas bocas pelas quais eu possa pregar o meu Senhor e Salvador Jesus Cristo'"[5]. (grifo nosso).
Foi então que em 311, o Imperador Galério, em seu leito de morte, promulga o Edito de Tolerância, legalizando o cristianismo e rogando a prece dos cristãos em paga da “Nossa Altíssima Clemência”. Com efeito, enquanto Roma gerava o caos, o cristianismo multiplicava-se calmamente, construindo, dessa forma, uma ordem que sobreviveu após a derrota do Estado Imperial Romano.[6]

Em meio essa indecisão, de não saber o que fazer com a situação dos cristãos, se deveria ou não combater o avanço do cristianismo, pois surgia um edito após o outro liberando e proibindo o culto cristão. Essa causa estava indefinida sem nenhuma posição sólida a esse respeito. É nesse clima que surge no cenário mundial a figura de Constantino “O Grande”, o qual, em termos, determinará os novos rumos da nascente Igreja Católica, sobretudo no que se refere à institucionalização oficial da doutrina cristã.

Constantino, o Grande, 272 - 337.

Constantino I, Constantino Magno ou Constantino, o Grande (Flavius Valerius Constantinus), foi proclamado Augusto pelas suas tropas em 25 de Julho de 306 e governou uma porção crescente do Império Romano até à sua morte. Nascido em Naissus, na Mésia (cidade de Niš na atual Sérvia), filho de Constâncio Cloro e da filha de um casal de donos de uma albergaria na Bitínia, Helena de Constantinopla.[7] Não se tem muita certeza sobre a origem da mãe do Imperador Constantino, por exemplo, O Dr. Knight em sua obra diz que sua mãe era uma princesa britânica.[8]

O fato de Constantino ter vivido no Oriente grego e de que sua mãe Helena sabia fluentemente o idioma grego, ajudou Constantino ter uma boa educação, o que facilitou-lhe o acesso à cultura bilíngue própria da elite romana, e foi de grande valia no serviço do tribunal de Diocleciano depois do seu pai ter sido nomeado um dos dois Césares. Constantino serviu nas campanhas do César Galério e de Diocleciano contra os Sassânidas e os Sármatas. Quando houve abdicação conjunta de Diocleciano e Maximiano em 305.

Entrou para a história como o primeiro Imperador romano a professar o cristianismo. Segundo a historia sua aproximação com o cristianismo foi durante a sua vitória sobre um dos maiores defensores do paganismo, Maxêncio, na chamada Batalha da Ponte Mílvio, em 28 de outubro de 312, perto de Roma, que ele mais tarde atribuiu ao Deus cristão como relata o historiador Curtis[9]
“Segundo o relato da história, o general Constantino olhou para o céu e viu um sinal, uma cruz brilhante, na qual podia ler: ‘Com isto vencerás (...) Mais tarde, Cristo teria aparecido a Constantino em um sonho, segurando o mesmo sinal (uma cruz inclinada), lembrando as letras gregas chi (χ) e rho (ρ), as duas primeiras letras da palavra Christos” 
Isse foi o evento que levou Constantino a colocar esse sinal nos escudos de seus soldados, e fez prontamente, da forma exata como fora ordenado. Assim venceu a batalha e derrotando o seu inimigo Maxêncio, pois morreu afogado em sua própria armadilha, era uma falsa ponte de barcas feita no rio Tibre e estava preparada como armadilha contra Constantino, mas rompeu-se antes do tempo, matando Maxêncio afogado no rio.[10]

Tal fato marca a derrota do paganismo, sobretudo pela promulgação do Edito de Milão, documento que confirma a tolerância religiosa concedida por Galério, Constantino e Licínio, quando estavam se reunido na conferência da cidade de Milão. Ficou assim decidido
“...a respeito do bem e da segurança do império, decidimos que, entre tantas coisas benéficas à comunidade, o culto divino deve ser a nossa primeira e principal preocupação. Pareceu-nos justo que todos, cristãos inclusive, gozem da liberdade de seguir o culto e a religião de sua preferência”[11]. 
Este desejo acabou estendendo-se, igualmente, a todos os outros credos, além de ordenar a restituição sem nenhum ônus dos bens confiscados e dos lugares de culto dos cristãos por ocasião das últimas perseguições.

No próxima parte deste ensaio iremos retratar o Concílio niceno, a Igreja do IV século e seus desdobramentos.

Continuação.... II Parte..

Soli Deo Gloria.


Notas (I Parte)

[1] Utilizamos aqui este termo no sentido mais antigo da palavra, como aquilo que denota o “poder metafísico”.
[2] BETTENSON, Henry. Documentos da Igreja Cristã..São Paulo: Aste, 2007. p.47.
[3] MEDEIROS, Silvio. AULA DE HISTÓRIA III: O Edito de Milão e a consolidação histórica do Cristianismo. Disponível em: http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/2.5/br/.
[4] KNIGHT, A.E., ANGLIN, W. História do cristianismo. 2ª ed,. Rio de Janeiro: CPAD, 1983. p.20.
[5] KNIGHT, A.E., ANGLIN, W. op. cit. p.31.
[6] MEDEIROS, Silvio. op. cit.
[7] Informações retiradas do artigo “Constantino I” da Enciclopédia eletrônica livre Wikipédia disponível em: www.Wikipédia.com.br.
[8] KNIGHT, A.E., ANGLIN, W. op. cit. p.33.
[9] CURTIS, A. Kenneth.Os 100 acontecimentos mais importantes da história do cristianismo: do incêndio de Roma ao crescimento da igreja na China .trad. Emirson Justino. São Paulo: Editora Vida, 2003. p.28.
[10] EUSÉBIO, História Eclesiástica,São Paulo: Editora Novo Século, 2002. p.198.
[11] BETTENSON, Henry op. cit. p.49.

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BIBLIOGRAFIA (Geral).

BETTENSON, Henry. Documentos da Igreja Cristã..São Paulo: Aste, 2007. 452 p.
BÍBLIA Shedd: Antigo e Novo Testamento. Trad. João Ferreira de Almeida. 2.ed. rev. e atualiz. no Brasil. São Paulo: Vida Nova; Brasília: Sociedade Bíblica do Brasil, 1997. 1929 p.
CAIRNS, Earle E. O cristianismo através dos séculos:uma história da Igreja cristã.trad. Israel Belo de Azevedo.2. ed. São Paulo: Vida nova, 1995. 508 p.
CURTIS, A. Kenneth. Os 100 acontecimentos mais importantes da história do cristianismo: do incêndio de Roma ao crescimento da igreja na China .trad. Emirson Justino. São Paulo: Editora Vida, 2003. 205 p..
EUSÉBIOHistória Eclesiástica,São Paulo: Editora Novo Século, 2002. 223 p.
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PERES, Alcides Conejeiro. O catolicismo romano através dos tempos: uma análise de sua história e doutrinas. Rio de Janeiro: JUERP, 1995. 146 p.

Bibliografia eletrônicas.

BRANDT, Steve. O Concílio de Nicéia. Apostolado Veritatis Splendor, Disponível em: http://www. veritatis. com.br/article/4328. Acesso em: 28 de Março de 2013.
MEDEIROS, Silvio. AULA DE HISTÓRIA III: O Edito de Milão e a consolidação histórica do Cristianismo. Disponível em: http://www.recantodasletras.com.br/redacoes/571238. Acesso em: 28 de Março de 2013
VARO, Francisco. O que aconteceu no Concílio de Nicéia? Disponível em: http://www.opusdei.org.br/art.php?p=16353 Acesso em: 28 de Março de 2013.
WIKIPÉDIA, Enciclopédia eletrônica livre. Artigo “Constantino I” disponível em: www.Wikipédia.com.br. Acesso em: 28 de Março de 2013
WIKIPÉDIA, Enciclopédia eletrônica livre. Artigo “Primeiro Concílio de Nicéia” disponível em: www.Wikipédia.com.br. Acesso em: 28 de Março de 2013
OCULTURA, Enciclopédia eletrônica livre. Artigo “Primeiro Concílio de Nicéia” da disponível em: http://www.ocultura.org.br. Acesso em: 28 de Março de 2013

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Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise.

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